O pensamento religioso do século XXI - TCC


CURSO: FORMAÇÃO DE PROFESSORES/R2 FILOSOFIA

  

Elias Batista Nogueira

 

O pensamento religioso do século XXI

 

 

  

 

 

 

 

 

RIO DE JANEIRO

2023

 

 

Elias Batista Nogueira

 

 

Trabalho De conclusão de Curso para a aprovação no curso de Formação de Professores /R2 Filosofia do Instituto Pedagógico de Minas Gerais – IPEMIG

 

 

Orientador:

Magda Maria Fernandes - Mestrado


 

 

 

 

 

RIO DE JANEIRO

2023

 

 

RESUMO

 

 

            religião vem sofrendo mudanças no que a humanidade vem evoluindo. O pensamento humano tem evoluído a cada dia e com isso novas tendências no que diz respeito a fé tem se formado em meio aos diversos grupos organizados da sociedade. Novas formas de religiosidade começaram a aparecer no início do século XXI, estas que deixam de lado as esferas institucionalizadas e dão mais destaque à questão do transcendente. Vê-se, portanto, a religiosidade laica mais ativa por conta da chamada secularização da religião  

 

Palavras-chave: Pluralismo. Século. Religião 


 

SUMMARY

 

Religion has undergone changes as humanity has evolved. Human thought has evolved every day and with it new tendencies with regard to faith have been formed among the various organized groups of society. New forms of religiosity began to appear at the beginning of the twenty-first century, these that leave aside the institutionalized spheres and give more prominence to the question of the transcendent. Therefore, we see the secular religiosity more active because of the so-called secularization of religion  

 

Keywords: Pluralism. Century. Religion 

 

 



Introdução



Tanto no ensino fundamental quanto médio o estudo da filosofia está começando a adentrar com eficácia nas redes de ensino, sejam elas públicas ou privadas. Porém, é notável que mesmo no Brasil, a filosofia estudada é aquela que se refere aos grandes mestres da filosofia antiga, como é o que acontece com Sócrates, Descartes, Platão e outras figuras de grande importância para os dias atuais.

E o mesmo cenário também se repete em relação ao ensino superior, especialmente nas áreas de ciências humanas em que o conhecimento empírico e filosófico é fundamental. E mais uma vez o que acontece é clássico: a filosofia especialmente europeia é aquela pelo qual os professores de filosofia se dedicam com maior grandeza.

Dessa forma, tanto a Filosofia (que aqui é o foco) quanto a Sociologia (que é o meu outro objeto de estudo no momento) foram condenadas pelos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), estabelecidos pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) de 1996, por terem sido impregnadas de um “caráter negativo de doutrinação”.

Vale salientar neste trabalho que sendo assim, falta a consciência de uma filosofia própria, ou seja, de um grupo criado no próprio âmbito de nosso território, principalmente para análise interior e principalmente baseada em vivências e experiências práticas, fugindo um pouco da teoria em que a filosofia, muitas vezes, se enraíza.

Contudo no Brasil existem grande nomes que se perpetuaram no campo do saber Filosófico a saber:

• Mário Ferreira dos Santos – o paulista desenvolveu uma obra com mais de 100 volumes em que a ‘filosofia concreta’ é o grande destaque. Segundo o filósofo, nós precisamos analisar cada uma das ciências – como ética, matemática, política para depois reunir as mesmas em um único conjunto de conhecimentos.

• Miguel Reale – o filósofo foi responsável por associar os fundamentos da filosofia com a teoria tridimensional do direito. Sendo assim, ele impulsionou discussões acerca de ambos os temos, apresentando que o direito deve se valer de três diferentes dimensões: o valor, a norte e o próprio fato, que precisa ser analisado por meio de retórica social e histórica.

• Gerd Bornheim – o gaúcho foi um dos nomes fundamentais para inserir a filosofia no Brasil, uma vez que discorreu sobre uma grande variedade de temas – até mesmo sobre o que é o ato de filosofar, sendo o termo relacionado com a própria interioridade do indivíduo. Além disso, ele também era crítico acerca da necessidade de criar-se uma filosofia nacional.

• Outros nomes da filosofia, apontados pelo livro “A filosofia contemporânea no Brasil” são: Henrique Cláudio de Lima, Sérgio Paulo Rouanet, Fernando de Arruda Campos, Hilton Ferreira Japiassu, José Arthus Giannotti, Marilena Chauí, Olavo de Carvalho, Roberto Romano, Paulo Ghiraldelli Jr. e outros.

A partir do pensamento filosófico e com a evolução da humanidade novas formas de religiosidade começaram a aparecer no início do século XXI, estas que deixam de lado as esferas institucionalizadas e dão mais destaque à questão do transcendente. Vê-se, portanto, o aclive da religiosidade laica em detrimento da chamada secularização da religião.

Por outro lado, as sociedades modernas se caracterizam, dentre outros elementos, por um crescente individualismo. Segundo Bauman (2006) as pessoas já não se sentem presas às culturas e tradições religiosas, entendem que a opção religiosa também é objeto de livre escolha e que a fé pode ser customizada, forjada segundo os interesses de cada um.

Os valores tradicionais, que se pretendiam ser como universais, perderam força e legitimidade e foram, por sua vez, substituídos. Temos, então, uma nova concepção de Religiosidade, que não é mais como a tradicional: trata-se de uma Religiosidade descentralizada, descompromissada com a instituição religiosa e que forja dogmatismos que são customizados de acordo com seus interesses.

A questão da Secularização e da Religiosidade laica, principalmente, após o fim da II Guerra Mundial, tem se ampliado de forma considerável no pensamento ocidental. Este pode ser relacionado com diversas esferas da sociedade: jurídica, política, social, científica, filosófica, artística, econômica, moral e religiosa.

Desta forma, podemos afirmar que a crescente laicização das instituições públicas tem ligação direta com as novas formas individualizadas e plurais das religiosidades. A Constituição Federal Brasileira de 1988 dispõe sobre a laicidade do Estado, o que significa que ele é alheio ao clero ou outra ordem religiosa. Noutras palavras, a vida intelectual e moral dos cidadãos não pode ser conduzida pela Igreja ou demais instituições religiosas. Por outro lado, o que se vê na realidade não representa o disposto na Carta Magna.

Os gregos e os romanos foram os primeiros a sistematizar reflexões religiosas. Nos primeiros séculos do cristianismo, novas reflexões teológicas surgiram e se desenvolveram a fim de conciliar a filosofia grega ao cristianismo.

Durante a Idade Média, predominava a Filosofia Escolástica quando o Teocentrismo será valorizado. Será durante o Renascimento que este modelo começará a ser questionado. Vale destacar também o advento da expansão europeia pelos continentes levou a religião ocidental pelo mundo. Contudo, também travou contato com culturas e religiões muito distintas daquelas conhecidas até então.

Atualmente, nos países da Europa, há certo declínio da religião, sobretudo cristã. Por outro lado, o Cristianismo cresce nos Estados Unidos, na América Latina e na África. O Islamismo se expande pelo sudeste asiático e Europa; e o Hinduísmo, Budismo e Xintoísmo ainda são a maioria no Extremo Oriente.

Importante destacar também o Protestantismo, em sua vertente pentecostal, que vem crescendo na América Latina. Por fim, enquanto componente fundamental da cultura humana, a Religião foi motivo de inúmeras guerras. Além disso, estruturou sociedades e definiu o conhecimento científico, filosófico e artístico durante muitos séculos.




Religiosidade e Espiritualidade



O ser humano, diferentemente dos demais animais, tem uma percepção, um desejo e uma busca pela espiritualidade ou pelo que se entende, em certos contextos, como religiosidade.

O ser humano não consegue viver apenas com a racionalidade. Ele necessita do caráter afetivo, do lúdico, do imaginário. Ele é homo complexus. Entretanto, a educação formal, a ciência e o mundo moderno, na maioria das vezes, privilegiou a racionalidade e ignorou as aptidões lúdicas, imaginárias e míticas, deixando a religião e a religiosidade de lado, cometendo um grande equívoco no processo de formação humana.

Durante o Iluminismo, uma grande mudança de perspectivas trouxe novas ideias, rompendo com a visão teocêntrica e com o predomínio da religião em detrimento da razão, vigente na Europa desde a Idade Média. Os iluministas entendiam que as crenças religiosas e o misticismo deveriam ser substituídos pelo pensamento racional, mais apropriado para a evolução da humanidade (LUCKMANN, 2014).

Pode-se considerar a religiosidade e o sagrado como a origem das normas e da ordem, como a manutenção da vida social. Otto (2005) entende a religiosidade como as práticas religiosas, organizacionais ou não, e que podem ser entendidas como fenômenos decorrentes da cultura. Por exemplo, só o ser humano apresenta sentimentos espirituais e religiosos a respeito da morte e é daí que surge a força da religião: é na vida espiritual, depois da morte, que a fundamentação da religiosidade acontece.

As práticas religiosas organizacionais dividem-se em pública, social e institucional; já as práticas não organizacionais dividem-se em privada, pessoal e individual. A religiosidade é percebida como experiência individualizada do transcendente e não deve ser confundida com o conceito de religião, sendo sua matriz instituída. Como traçado antes, há diferença entre religião e espiritualidade.

A primeira tem relação com a crença, com a aceitação de determinada realidade sobrenatural, diretamente vinculada a rituais e dogmas estabelecidos. Para Weber (2004), a religiosidade pode ser vista como a crença e a prática da religião por alguém. Por outro lado, a espiritualidade diz mais sobre as qualidades do espírito humano, como o amor, o perdão, a compaixão etc. Tanto a religiosidade quanto a espiritualidade estão associadas à satisfação de viver, ao bem-estar psicológico, a benefícios para a saúde mental e física, pois ambas dão aos indivíduos sentidos para suas vidas, ajudando-os a lidar com a dor e com a morte. Ainda hoje, vivenciando, como muitos falam, o pós-modernismo, momento em que predominam a lógica e o racionalismo, a busca pela religiosidade e/ou pela espiritualidade ainda é muito presente, mas de forma individual e não coletiva. Chama-se a religiosidade contemporânea de ateísta ou laica.

Ela abrange várias formas de viver a espiritualidade, sendo caracterizada pela racionalidade, pelo bem-estar e pelo princípio da autonomia. Não há crenças em figuras mágicas, como deuses. A liberdade religiosa é usufruída a partir da laicização dos indivíduos da sociedade (FRANCO, 2015). Temos, então, uma nova concepção de religiosidade, que não é mais como a antiga: trata-se de uma religiosidade descentralizada e desvinculada com a instituição religiosa, cujos dogmatismos são customizados de acordo com seus interesses. A questão da secularização e da religiosidade laica, principalmente, após o fim da II Guerra Mundial, tem se ampliado de forma considerável no pensamento ocidental. (LUCKMANN, 2014).

A Espiritualidade é considerada a partir do entendimento de um Ethos integral do ser humano, sendo ela parte deste processo. Ethos significa “caráter moral” e diz sobre o conjunto de crenças e hábitos que caracterizam um povo. Aristóteles entende que nosso caráter é edificado conforme nossos hábitos, ou seja, é por meio deles que obtemos a excelência moral (KÜNG, 1993).

Em uma conceituação de dicionário, espiritualidade diz sobre aquilo que é espiritual, que transcende, sublime, eleva. Percebe-se que esta sensação pode ser vivida a partir de diferentes tipos de experiências, não precisando que elas estejam necessariamente vinculadas com a religião, podendo fazer parte, inclusive, do Ateísmo.

A Espiritualidade é uma busca individual por respostas acerca das questões existenciais, sendo que, a partir dela, podem (mas não obrigatoriamente) ser desenvolvidos alguns rituais religiosos e, em consequência, se formar uma comunidade. O silêncio, e não as religiões e crenças, é o caminho para a espiritualidade. As tradições religiosas oferecem às novas sociedades laicas a via do amor incondicional e da unidade para o conhecimento (OTTO, 2005). Nota-se, neste sentido, a maior amplitude da espiritualidade em relação à religião e à religiosidade. Ela se refere à procura pessoal por respostas, sendo que a relação com o Sagrado não é necessária, apesar de poder existir.

É, portanto, uma capacidade inata da psique humana, uma habilidade do cérebro para descobrir outras manifestações de sentido aos fenômenos da vida. A espiritualidade está ligada às experiências com aquilo que ultrapassa o que é corriqueiro no dia a dia, permitindo com que os sujeitos sejam mais criativos perante as questões existenciais. Ela incentiva o ser humano a buscar o sagrado, procurando o sentido e as respostas para os problemas da vida naquilo que transcende.

Não se pode confundir a espiritualidade com o domínio das religiões ou de outro movimento espiritual, pois ela é pertencente ao próprio ser humano (BOFF, 2006).

A espiritualidade leva o indivíduo para além de seu universo, trazendo para ele seus aspectos mais profundos, interiores, permitindo que ele busque as respostas para os problemas que permeiam a vida, como de onde ele veio, para onde ele vai, qual o sentido de estar vivo, entre outras relacionadas à busca de sentidos para a existência (BOFF, 2006). O que é abrangido pela espiritualidade é a dimensão existencial, da essência do ser humano, envolvendo questões reflexivas acerca do significado da vida. É uma busca individual em relação com aquilo que transcende ou com o que é sagrado.

Não se trata de uma doutrina religiosa, aliás, ela nem precisa ter vínculo com alguma religião. As crenças pessoais podem não ter relação com as crenças específicas de uma religião e nem com um Deus. Neste sentido, Luc Ferry (2008) discorre sobre a espiritualidade laica, compreendendo-a para além do religioso. Essa espiritualidade recebe uma herança espiritual das religiões tradicionais, entretanto, não exige que se assuma uma delas para buscar o sentido da existência. Para o autor, esta é uma forma de aprimorar o espiritualismo do ser humano, auxiliando-o a se desvincular de seu egoísmo inerente e fazendo com que ele se aproxime do outro não por interesses, mas por compaixão e amor.



Sistemas Religiosos

As religiões possuem em comum alguns aspectos como: caráter público, hierarquias clericais, reuniões regulares, estabelecimento de limites entre o sacro e profano, a sacralização de determinados locais, veneração de divindades, escrituras sagradas ou tradição oral, sacrifícios, festas, serviços funerários e matrimoniais, meditação, arte, calendários religiosos e um sistema de crenças no sobrenatural, geralmente explicando a vida após a morte ou a origem do Universo.

A palavra “seita”, designa o segmento minoritário nas religiões, enquanto “heresia” é todo conteúdo contrário a estrutura teórica da religião dominante.





Da esquerda para direita: um padre católico, um rabino, um muçulmano, um hare-khrisna, uma mãe-de-santo, um índio e um pastor protestante.

Panteístas: as mais primitivas manifestações religiosas, não possuem livros sagrados, divinizam elementos naturais como o vento, a água, o fogo, os animais, dentre outros.

Politeístas: “substituem” as panteístas quando os elementos divinos são personificados e humanizados, havendo uma equivalência entre deidades femininas e masculinas nos cultos.

Ateístas: negam a existência de um ser central e supremo (o qual, para elas, seria o Vazio ou um Não-Ser). Não creem em deuses personificados, mas acreditam em forças invisíveis, como fenômenos da natureza inexplicáveis. Deste modo, prega-se a interdependência harmônica do Universo, equilibrado por meio do Tao ou encontrado no Nirvana. São exemplos, o Budismo, na Índia e na China, o Taoísmo e o Confucionismo.

Monoteístas: são as religiões mais recentes e populares (cerca de 50% da população mundial), possuem Livro Sagrado no qual está presente a verdade da Revelação Divina, onde se estabelece a divindade soberana e eliminam-se adorações independentes. É curiosa a escassez de representações do Deus supremo, enquanto as entidades menores (como os anjos) são muito retratadas. Outro detalhe é que o Deus único (Hebreu, Cristão e Islâmico) são masculinos e absorveram os elementos femininos como a bondade.

No Brasil, a maioria das pessoas pratica alguma religião.

A religião predominante é o cristianismo com 86,8%. Destes 64,6% se declaram católicos e 22%, evangélicos.

Os espíritas correspondem a 2% da população brasileira.

Apesar de muito populares, as religiões de matriz africana como candomblé e umbanda sempre aparecem com percentuais muito baixos nos censos.

Isto se deve à perseguição histórica a que estas crenças estiveram submetidas fazendo com que seus praticantes tivessem que esconder sua identidade.

Igualmente, as pessoas que se dizem espiritualistas alcançou a cifra de 4,4%. São pessoas que não tem uma religião específica, mas creem em diferentes manifestações metafísicas.

Outra religião que tem crescido no Brasil é o Islamismo, seja pela chegada de imigrantes como dos próprios brasileiros que estão descobrindo esta doutrina.

Ateísmo: Normalmente, as pessoas que não tem uma religião específica são chamadas de "ateus".

Esta seria uma definição imprecisa porque a palavra designa aqueles que não acreditam de Deus. Assim: Theos - deus e "a" seria a negação.

Igualmente, existem aqueles que se declaram "agnósticos". Gnose - conhecimento. Portanto, agnose seria a negação do conhecimento. Se Deus existe, não se sabe e é indiferente.

Outra vertente surgiu com o Cientificismo, o socialismo e o anarquismo. Todos esses movimentos negavam a existência de Deus e queriam destruir a religião como instituição. Marx afirma que a religião é o "ópio do povo", no sentido que ela o deixava anestesiado e sem iniciativa para lutar contra as injustiças sociais.




Conclusão:

Intolerância e Discriminação Religiosa Um dos principais gatilhos de bullying nas escolas é a Religião, por isso a importância de tratar sobre a intolerância religiosa, visto que sua presença nos espaços de convivência afetam o bem-estar das pessoas e, no caso das escolas, o aprendizado dos alunos. O preconceito e a intolerância, certamente, decorrem da ignorância e do egoísmo. É fundamental que professores e alunos se tratem com respeito, não importando as crenças individuais de cada um, evitando, desta forma, a intolerância e a perseguição religiosa. Segundo a Pesquisa Nacional de Saúde Escolar 2015, publicada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2016), a porcentagem de estudantes entre 13 e 17 anos que afirmam ter sofrido humilhação nas escolas por conta de sua crença religiosa é de 4,2%. Este percentual coloca a intolerância religiosa em quarto lugar no ranking de motivos que levam a provocações no ambiente escolar, perdendo apenas para aparência do corpo, aparência do rosto e raça/cor.

Em quinto e sexto lugar estão, respectivamente, orientação sexual e região de origem. É uma situação que precisa ser revertida com urgência, sendo que o diálogo e a informação são os principais instrumentos para diminuir a intolerância. É mais fácil respeitar as diferenças e aprender a importância da diversidade quando se entende que as várias religiões existentes são manifestações culturais que possuem sua legitimidade.

No entanto, para conseguir, é fundamental que as instituições escolares – e toda a sociedade – se comprometam com a promoção da equidade, criando medidas de enfrentamento à discriminação e ao preconceito. Define-se intolerância religiosa como o conjunto de ideologias e ações que ofendem religiões e crenças distintas, ou seja, trata-se da incapacidade de lidar com o posicionamento religioso alheio. Suas principais características são os atos de discriminação, de violência – que pode ser ideológica ou física –, ou qualquer tipo de atitude que viole a liberdade de culto das pessoas. Em situações mais extremas, a intolerância pode se tornar uma perseguição religiosa, tipificando um crime de ódio contra a dignidade e liberdade humana. Em alguns casos de perseguição, ocorrem, inclusive, atentados à vida contra grupos de outros movimentos religiosos (BOFF, 2006).

Etimologicamente, tolerância é um termo que vem do latim “tolerare” que significa “suportar”, “aceitar”, no entanto, deve ser mais do que esta definição, uma vez que não podemos suportar para sempre algo. Tolerar o que está bem afastado, segregado e excluído por mim fica bastante fácil, pois não requer esforço de compreensão e de busca de convívio compartilhado (ABBAGNANO, 1998). Entende-se, então, que o conjunto de ações e pensamentos que anseiam atacar as práticas e crenças religiosas de outrem configura a intolerância religiosa.

O assunto é muito sério, ainda mais quando se percebe a ausência de interesse em conhecer de forma mais profunda as culturas diferentes de modo que se torne mais fácil a aceitação do outro. No Brasil, não existe uma religião oficial, tornando-o um país de Estado Laico, ou seja, neutro no que diz respeito às várias religiões presentes no território brasileiro. Igreja e Estado não atuam em conjunto, o que assegura que a atuação das instituições públicas não sofre – ou não deveria sofrer – influência religiosa.

Várias legislações nacionais e internacional protegem os indivíduos da intolerância e da discriminação, tais como a Declaração das Nações Unidas, o Código Penal e a própria Constituição Federal. O art. 5º, inciso VIII, da Carta Magna de 1988 dispõe que: “ninguém será privado de direitοs pοr mοtivo de crença religiοsa ou de cοnvicção filοsófica ou pοlítica, salvo se as invοcar para eximir-se de obrigação legal a tοdos impοsta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei”. Então, além de estabelecer a separação entre Igreja e Estado, a Constituição Federal assegura a igualdade de todos os cidadãos, independentemente de suas crenças individuais. Deste modo, a liberdade religiosa é constitucionalmente garantida e não deve, portanto, ser violada.

Os direitos, também constitucionais, de liberdade de expressão e de opinião permitem que os dogmas e as ações das religiões sejam criticadas ou questionadas, entretanto, não abre espaço para a disseminação de ódio e desrespeito ao grupo religioso em questão (BRASIL, 1988). O art. 208 do Código Penal Brasileiro pontua sobre o impedimento ou a perturbação da prática religiosa: Art. 208 - Escarnecer de alguém publicamente, pοr mοtivo de crença ou função religiοsa; impedir ou perturbar cerimônia ou prática de culto religiοso; vilipendiar publicamente ato ou objeto de culto religiοso: Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa. Parágrafo único - Se há emprego de viοlência, a pena é aumentada de um terço, sem prejuízo da cοrrespondente à viοlência. É primordial Ensinarmos com estes critérios estabelecidos.




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