Movimentos dos negros Brasileiros e seus papéis sociais - TCC

 




       CURSO: FORMAÇÃO DE PROFESSORES/R2 CIENCIAS SOCIAIS

  

Elias Batista Nogueira

 

 

Movimentos dos negros Brasileiros e seus papéis sociais

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

RIO DE JANEIRO

2023

 

 

 

Elias Batista Nogueira

 

 

 

 

Trabalho De conclusão de Curso para a aprovação no curso de Formação de Professores /R2 Ciências Sociais do Instituto Pedagógico de Minas Gerais – IPEMIG

   

 

Orientador:

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

RIO DE JANEIRO

2023

 

 

RESUMO

 

 

            negro começou a surgir no Brasil com a escravidão. O Movimento no sentido de ação organizada surgiu da necessidade de defender-se das violências e praticadas pelos senhores, pois estando escravizados os negros se uniram buscando formas de resistência. Com o tempo este movimento negro se fortaleceu obtendo por diversas conquistas como comunidade organizada, se fortalecendo em séculos de injustiça e reflexos sobre as políticas escravocratas que ainda são visíveis na sociedade.  

 

Palavras-chave: Organização. Negro. Educação. 

 

 

 

 

SUMMARY

 

Blacks began to emerge in Brazil with slavery. The Movement in the sense of organized action arose from the need to defend oneself from the violence practiced by the masters, because being enslaved, the blacks united in search of forms of resistance. Over time, this black movement was strengthened, obtaining through several conquests as an organized community, strengthening itself in centuries of injustice and reflections on the slave policies that are still visible in society. 

 

 

Keywords: Organization. Black. Education. 

  

 In

trodução



No presente artigo relatarei a função enobrecedora do professor em sua atividade enquanto Educador Social.

Gostaria de começar cotando uma disciplina extinta que ao meu ver nunca esteve tão viva! Falo da OSPB (Organização Social e Política Brasileira).

Disciplina que, de acordo com o Decreto Lei 869/68, tornou-se obrigatória no currículo escolar brasileiro a partir de 1969, juntamente com a disciplina de Educação Moral e Cívica (EMC). Ambas foram adotadas em substituição às matérias de Filosofia e Sociologia e ficaram caracterizadas pela transmissão da ideologia do regime autoritário ao exaltar o nacionalismo e o civismo dos alunos e privilegiar o ensino de informações factuais em detrimento da reflexão e da análise. O contexto da época incluía a decretação do AI5, desde 1968, e o início dos “anos de chumbo” – a fase mais repressiva do regime militar cujo “slogan” mais conhecido era “Brasil, ame-o ou deixe-o”.

Dessa forma, as duas matérias foram condenadas pelos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), estabelecidos pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) de 1996, por terem sido impregnadas de um “caráter negativo de doutrinação”.

Vale salientar neste trabalho que na ditadura militar herdamos não apenas o pensamento autoritário, mas também o aparato de repressão e violência. Os dados que temos sobre o século XXI assemelham-se às realidades de países que vivem em guerra. Destaco ainda que no ano em que a vereadora Marielle Franco (Rio de Janeiro) foi brutalmente assassinada o Atlas da Violência de 2018 divulgou que, em dez anos, a taxa de homicídios de negros (pretos e pardos) aumentou em 23,1% no mesmo período em que reduziu os homicídios de pessoas brancas. Para o caso das mulheres negras, o aumento da violência letal cresceu em 71% em contraste com as mulheres não negras. Outras pesquisas anteriores já vinham apresentando essas disparidades alarmantes da violência racial.

O Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2016 revelou que, em 2015, o número de mortes violentas intencionais no Brasil foi de 58.492, destes, 54% eram jovens e 73% eram pretos ou pardos. Vítimas da violência sistêmica e estrutural, as famílias negras e pobres viveram o período democrático como se estivessem num regime de exceção, autoritário e sem liberdades civis. Em termos de violência, o país se dividiu em dois: um para brancos e outro para negros. Aqui o racismo estrutural funciona com uma cortina espessa que separa as vidas que importam daquelas que são descartáveis.

A importância do conhecimento dos educadores na questão social é fundamental.

Petrus (1997) descreve que o mais adequado para definir com exatidão o que se entende hoje por educação social é recorrer à análise da realidade existente e refletir sistematicamente sobre o que esta realidade é e o que deve ser. Ele defende que a educação social é uma terminologia de difícil precisão, porque a sua conceituação tende a variar segundo a ideologia, a filosofia e a visão antropológica em que está embasada.

A educação que se ocupa do social começa assim a ser identificada, no Brasil, no momento histórico em que atores sociais, ocupados em minimizar os efeitos dos problemas sociais começam a reunir crianças e adolescentes em praças, para desenvolver ações educativas. Logo, esses atores sociais começam a ser chamados educadores sociais (de rua). Motivados pelos princípios de uma educação que subverte a lógica escolar, organizam rotinas, planejam e executam ações coordenadas para o desenvolvimento integral dos sujeitos. Trata-se de uma educação que nasce no bojo de uma sociedade desigual, na qual milhares de sujeitos estão aquém do acesso pleno de seus direitos e que, vinculados às políticas públicas, sobretudo as da assistência social, têm o direito a uma educação que têm a capacidade de estimular a formação do ser humano de forma integral, conjugando esforços para a construção da dimensão real do acesso de seus direitos. Nessa perspectiva, a educação social poderia ser denominada como uma pedagogia dos direitos. Em síntese, é uma educação com a atenção voltada aos fenômenos sociais. Logo, é tarefa da educação social construir coletivamente respostas pedagógicas aos conflitos da vida humana em sociedade.

Movimento Negro




Os negros trazidos para o Brasil pertenciam, principalmente, a dois grandes grupos étnicos: os sudaneses, originários da Nigéria, Daomé e Costa do Marfim, e os bantos, capturados no Congo, Angola e Moçambique. Estes foram desembarcados, em sua maioria, em Pernambuco, Minas Gerais e no Rio de Janeiro. Os sudaneses ficaram na Bahia. Calcula-se que entre 1550 e 1855 entraram nos portos brasileiros cerca de quatro milhões de africanos, na sua maioria jovens do sexo masculino.

Os navios negreiros que transportavam africanos até o Brasil eram chamados de tumbeiros, porque grande parte dos negros, amontoados nos porões, morria durante a viagem. O banzo (melancolia), causado pela saudade da sua terra e de sua gente, era outra causa que os levava à morte. Os sobreviventes eram desembarcados e vendidos nos principais portos da Colônia, como Salvador, Recife e Rio de Janeiro. Os escravos africanos eram, de forma geral, bastante explorados e maltratados e, em média, não aguentavam trabalhar mais do que dez anos. Como reação a essa situação, durante todo o período colonial foram constantes os atos de resistência, desde fugas, tentativas de assassinatos do senhor e do feitor, até suicídios. Se um povo é a sua história aqui já fica visível que são os negros no Brasil e o porquê da constante luta.


História dos movimentos de Negros

No Brasil, os movimentos dos negros surgiram de forma precária e clandestina, durante o período escravagista com personagens que se insurgiram contra o sistema impulsionando as organizações.

Vou destacar de acordo com a pesquisa que fiz vinte e seis personalidades na política, na música, nas artes, na literatura e no ativismo, reconhecendo que muitas foram as pessoas negras que lutaram pela inserção social do povo negro no Brasil.

Assim, reunimos uma lista de grandes mulheres e homens de várias gerações, que ajudaram de forma significativa na diminuição da desigualdade racial no nosso país.



Zumbi dos Palmares (1655-1695)

Uma das personalidades mais importante da nossa história é o líder da resistência negra Zumbi dos Palmares, que nasceu no Quilombo dos Palmares (região de Alagoas).

No Quilombo, que foi um verdadeiro centro de luta contra a escravidão, chegaram a viver cerca de trinta mil pessoas, homens e mulheres escravizadas que escaparam dos seus senhores e outras pessoas marginalizadas na sociedade colonial.

Durante aproximadamente dezoito anos, Zumbi defendeu o Quilombo contra capitães do mato e governantes que queriam destruir a comunidade.

A morte de Zumbi foi trágica: denunciado por um dos companheiros, foi capturado, morto e degolado. Sua cabeça ficou exposta em praça pública para desencorajar outros escravizados e escravizadas de se rebelarem.

O Dia da Consciência Negra (22 de novembro) - dia do assassinato brutal de Zumbi - é uma importante data que relembra e fortalece a luta e a força do povo negro no Brasil.

Machado de Assis (1839-1908)

Considerado por muitos como o maior escritor brasileiro de todos os tempos, Joaquim Maria Machado de Assis teve uma origem difícil e, embora sua negritude tenha sido negada por muito tempo, hoje finalmente é reconhecido como um homem negro.

Nascido no berço de uma família pobre carioca, o futuro grande escritor precisou trabalhar cedo e foi um autodidata. Um dos seus primeiros empregos foi como aprendiz de tipógrafo. Depois de publicar o seu primeiro conto - aos 16 anos - não parou mais de escrever, tendo criado romances, crônicas, poemas e textos dos mais variados gêneros.

Atuando também como tradutor e jornalista, Machado deixou um legado ímpar na nossa literatura. Ativista, o intelectual foi ainda o fundador (e primeiro presidente) da Academia Brasileira de Letras.

Luís Gama (1830-1882)

Um dos patronos da abolição da escravidão no Brasil é o advogado e escritor Luís Gama.

Nascido em 1830 em Salvador (BA), Luís era filho da negra liberta Luísa Mahin (outra figura importantíssima na luta pela libertação) e de um aristocrata português.

Aos dez anos, o pai o vendeu como escravizado, o que o levou a viver em São Paulo. Com esforço, Luís aprendeu a ler e escrever e pagou pela sua alforria.

Ele ainda estudou direito por conta própria, já que não foi aceito na Universidade por ser negro. Tornou-se um intelectual e atuou intensamente pela libertação do povo negro.

Gama publicou poemas abolicionistas e escreveu para jornais. Como advogado, mesmo sem diploma, trabalhou pela alforria de negros e negras, salvando mais de 500 pessoas do cativeiro.

Só foi reconhecido como advogado pela OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) em 2015, após mais de130 anos de sua morte.



Maria Firmino dos Reis (1825-1917)

A primeira romancista brasileira nasceu em São Luís do Maranhão, da união de pai negro e mãe branca.

Criada por uma tia, teve acesso à educação formal e quando tinha 25 anos passou num concurso e se tornou professora primária.

Aos 34 anos publicou a sua primeira obra, chamada Úrsula (1859). Esse foi o primeiro romance lançado por uma mulher no nosso país e teve a particularidade de ser também o primeiro livro antiescravagista publicado em solo brasileiro.

Além desse romance, lançou uma série de contos e um livro de poemas.



Carolina Maria de Jesus (1914-1977)

Uma importante escritora brasileira, Carolina Maria de Jesus foi autora de uma das grandes obras da nossa literatura: Quarto de Despejo: diário de uma favelada.

Com uma história de vida difícil, Carolina nasceu no interior de Minas Gerais, era neta de escravizados e filha de uma lavadeira analfabeta.

A família, numerosa (Carolina tinha sete irmãos), passou muita necessidade. A jovem só pode estudar porque teve a ajuda de uma das patroas da mãe. Quando se mudou com a família para São Paulo, Carolina trabalhou como lavradora, empregada doméstica, faxineira e catadora de papel.

Com três filhos, ela foi mãe solo e passou por momentos dramáticos vivendo na favela do Canindé. Nas horas livres, Carolina escrevia e, em 1941, teve um poema publicado no jornal Folha da Manhã. Um dos repórteres descobriu o seu talento e a ajudou a publicar o seu diário anos mais tarde.

Lançado em 1960, o livro autobiográfico fez tanto sucesso de público como de crítica, sendo publicado em muitos países e traduzido em 13 idiomas.



O Negro na politica

Antonio Pereira Rebouças

A luta pelos direitos da população negra é tão antiga quanto o Parlamento, porém os avanços foram lentos. Tanto que o Brasil foi o último país das Américas a abolir a escravidão, em 1888.

Já em 1823, no plenário da Assembleia Geral, Constituinte e Legislativa do Império, criada para elaborar a primeira Constituição brasileira, o deputado José Bonifácio, patriarca da Independência, defendia a abolição da escravatura.

Em 1828, na segunda legislatura da Câmara dos Deputados, foi eleito o primeiro deputado negro, Antonio Pereira Rebouças (BA), filho de um alfaiate português e uma escrava liberta. Entre seus diversos cargos e atribuições, ele foi conselheiro do imperador, d. Pedro 1º.

Já o Brasil republicano assistiu, em 1909, à eleição do pernambucano Manoel da Motta Monteiro Lopes, primeiro deputado federal filho de pai e mãe negros e conduzido ao Parlamento pela mobilização de negros.

O jurista pernambucano Manoel da Motta Monteiro Lopes é o primeiro deputado federal preto e com discurso racial afirmativo da República Federativa do Brasil, eleito onze anos após a abolição, e empossado em 1º de Maio, depois de o povo elegê-lo nas urnas e ir às ruas lutar por sua diplomação.

Republicano, socialista não-revolucionário, defensor dos trabalhadores, revelou sua “têmpera de lutador” e se tornou um “acérrimo abolicionista” quando ainda estudava Ciências Jurídicas, conforme consta na carta de Registro de Bacharel, de 29 de novembro de 1889, da Faculdade de Direito do Recife.

Filho de Jeronymo da Motta Monteiro Lopes e Maria Egiphicíaca de Paula Lopes, nasceu em Recife a 11 de janeiro de 1867, fez carreira como promotor e juiz em Manaus e mudou-se para o Rio de Janeiro, em 1894, a fim de se dedicar à advocacia.

Na então capital do Brasil, enfrentou uma avalanche de protestos pela sua cor, apesar de ser apenas mais um entre os milhares de migrantes e imigrantes que, nesse período, buscavam um “lugar ao sol” na cidade mais pujante da jovem República.

Polo econômico, social e político, a cidade passava por uma emergente industrialização, reunia o que havia de mais desenvolvido no campo científico e tecnológico, sediava uma efervescente vida cultural e ditava comportamentos e tendências estéticas.

Não demorou, Monteiro Lopes conquistou clientela, reconhecimento profissional, mas percebeu também a cidade marcada pela heterogeneidade e, sobretudo, repleta de injustiças e contradições, sociais e raciais.

O Rio queria ser Paris e, para a elite carioca, práticas culturais populares, bem como crenças religiosas de matriz africana, representavam atraso. Assim, ele assistiu a população pobre perder suas casas no centro da cidade e ter pioradas suas condições de vida.

Sensível a essas questões, passou a posicionar-se no debate público, se envolveu com associações de trabalhadores e ingressou na Irmandade do Rosário dos Homens Pretos. “Discípulo” de José do Patrocínio, afiliou-se à maçonaria e iniciou militância político-partidária.



O político

Em 1896, pertencia ao Partido Republicano Nacional, que não teve vida longa.

Em 1903, lançou sua candidatura e foi eleito pelo voto popular para o cargo de intendente municipal – vereador, na atualidade -, com atuação em favor de operários e classes pouco favorecidas.

Depois, tentou uma vaga na Câmara Federal. Foi derrotado.

No final de 1908, abraçou o projeto do Partido Democrático, que defendia a “soberania popular” e insistia no voto secreto. Costurou barganhas políticas e colocou uma nova candidatura na rua, surpreendendo a todos.

E mais ainda ao ser eleito no primeiro distrito com 2.337 votos, o terceiro mais votado – o primeiro, Irineu Machado, obteve 4.823 votos; o segundo, Bethencourt da Silva Filho, 3.039; o quarto, Pereira Braga 2.176, e o quinto, Barbosa Lima, 1.739.



A campanha

Durante a campanha, Monteiro Lopes não passou despercebido pela imprensa nem foi poupado. Ao contrário. Nos jornais, sobravam pilhérias, sátiras, troças e chacotas de cunho racista. Estratégia utilizada pelo ideário do racismo científico,que atestava nossa inferioridade racial, a propensão natural para o crime, a vinculação com epidemias, entre outros estigmas construídos em torno da identidade negra.

Boa parte das elites intelectuais e políticas – juristas, engenheiros, médicos, jornalistas, professores e autoridades públicas – acreditavam que a presença de africanos e seus descendentes representava um obstáculo para a melhoria da raça, para a formação do povo e a prosperidade da nação!

Daí imagens, representações e narrativas associando os negros a coisas negativas (atraso, ignorância, vadiagem, anomia) serem a tônica nos jornais:

A coluna de galhofas “Agulhas e alfinetes“, de O Século, escreveu na edição de 27/01/1909:

– Há uma nuvem escura no horizonte…

– Já sei – é a candidatura do Monteiro Lopes.

O diário Correio da Manhã, em 16/01/1909, na coluna “Pingos e respingos“, Cyrano & Cia registrou:

Na Avenida, no momento em que apaga um lampião:

– Isto por enquanto ainda não é nada; no dia das eleições é que vai ficar tudo preto…

– Já sei: o Irineu…

– Qual Irineu! Você está a ler! Este distrito é do Monteiro Lopes!

O “vai ficar tudo preto” era uma referência à cor do candidato, jocosamente associada a coisa ruim, a escuridão, trevas, ausência de luz.

A marca da cor, aliás, foi várias vezes acionada para desqualificá-lo. Mas Monteiro Lopes aguentou firmeosescárnios e as calúnias, apostando na ampliação da cidadania, na retórica da universalização dos direitos no regime republicano.

Ele montou seu comitê eleitoral no centro da cidade, investiu alto em cabos eleitorais, na confecção e distribuição de “santinhos” e na divulgação da sua candidatura, percorrendo a redação dos principais jornais e procurando mobilizar sua base eleitoral: os trabalhadores, categorias do setor público e privado e a população negra.

No dia das eleições: 30 de janeiro, um sábado, em pleno verão fluminense, sobravam boatos de fraudes eleitorais e todo tipo de falcatruas. Para se precaver, Monteiro Lopes acionou o chefe de polícia e pediu “providências”. Nada foi feito e muitas irregularidades viraram notícia de jornal.

A batalha e a guerra

Na verdade, não bastava ser o terceiro mais votado. Na época, o candidato eleito precisava ter o total dos votos reconhecido em várias instâncias. E, no final, ainda, tinha a Comissão de Verificação de Poderes, que diplomava os eleitos. O problema é que esse órgão do Congresso Federal costumava referendar apenas os mandatos dos políticos pertencentes aos grupos que já dominavam o poder.

Monteiro Lopes não era um cacique político, como escreviam os jornais, não tinha o “amparo de caudilhos políticos” e era “preto e muito preto“. E a conversa para impedir sua diplomação, nos bastidores do poder, se justificava pelo fato de ser “uma vergonha deixar entrar no Congresso um homem da cor do Sr. Monteiro Lopes”. Seria “uma afronta aos brios da raça superior “.

Para boa parte das elites intelectuais e políticas da época, a presença de africanos e seus descendentes era um obstáculo para a melhoria da raça, a formação do povo e a prosperidade da nação.

Segundo o Correio da Manhã, edição de 16/02/1909, quem estava à frente dos conchavos para impedir a diplomação do “político preto” era o Centro Industrial, associação de classe composta, em sua maioria, por antigos fazendeiros ex-negociantes de escravos.

Na imprensa, quem comandava a campanha contra Monteiro Lopes era Alcindo Guanabara, antigo jornalista dos senhores de escravos.

Virada de jogo

Monteiro não se intimidou. Ao contrário. Iniciou uma articulação para garantir seus direitos políticos, envolvendo não só setores políticos e da imprensa, mas também sindicatos, instituições de ensino, pessoas dos bairros, nos bondes, nas ruas e nas esquinas, a cor na política tornou-se a polêmica do momento – noticiou a Gazeta de Notícias, de 16/02/1909.

Na edição de 13 de fevereiro do mesmo ano, O Século estampa a manchete: “Está convocado para terça-feira um comício de protesto contra o esbulho de que dizem ameaçado o Dr. Monteiro Lopes. Corre que a coisa ‘será preta’ …” Mobilização para fazer valer a cidadania da população negra.

Dois dias depois, uma “grande reunião de homens de cor”, no Centro Internacional Operário, decide pedir adesão a todas as classes e corporações da capital, bem como da imprensa e dos homens de cor de todos os Estados na defesa do mandato de Monteiro Lopes.

Parlamentares e governadores da Bahia, Minas Gerais e do Rio Grande do Sul são contatados para manifestar-se publicamente “para que não seja excluído da representação nacional um eleito do povo, pelo fato de ser negro”.

No dia 19 de fevereiro, a Gazeta de Notícias conta que “o prematuro grito de alarme” contra a hipótese de não reconhecimento de Monteiro Lopes como deputado pela capital da República, estava repercutindo “por todos os recantos do país”.

A mobilização racial cresceu em ritmo acelerado, com manifestações de apoio a ele por parte dos “homens de cor” do Rio de Janeiro, São Paulo, Bahia, Pernambuco e várias outras cidades do território nacional, como Porto Alegre, Rio Grande, Bagé, Santa Maria e Pelotas, no Rio Grande do Sul,

Telegramas e cartas foram enviados às autoridades, uma ação judicial foi movida, atos públicos convocados e audiências agendadas com chefes políticos estaduais.

Enquanto isso, a revista O Malho, de 20/02/1909, trazia a charge intitulada “A cor dos casos “, fazendo chiste racista:

“Em mixórdias eleitorais tudo é possível”. Mas está, agora, “passa das marcas e… escurece tudo! Ah! Monteiro Lopes! A tua cor é que domina o horizonte: está ficando tudo preto… muito preto, Monteiro Lopes! Pretíssimo!”

A caminho da posse

Em março, desconfiado, Monteiro acompanha de perto o trabalho da Junta Apuradora. Não sem confronto e debates acalorados. Sua votação é confirmada. Mas existe, ainda, um último obstáculo: ser reconhecido pela Comissão de Verificação de Poderes, para tomar posse.

A campanha de pressão pública permanecia. No dia 28 de abril, novas ameaças vieram à tona. A imprensa divulgou que, nos “corredores da Câmara”, espraiou-se o “boato” de que fora elaborada por dois representantes do Distrito Federal uma emenda que mandava “rasgar o diploma do Sr. Monteiro Lopes, para fazer presente da sua cadeira ao Sr. Serzedello Correa”.

Fim de abril: a Comissão de Verificação conclui seu trabalho. Monteiro telegrafa e avisa os governadores. À Comissão Verificadora não é apresentada nenhuma emenda. E, finalmente, em 1º de maio de 1909, Monteiro Lopes é proclamado e reconhecido deputado federal pelo Distrito Federal.



A festa

Após a posse, O Século noticiaque, nas ruas, o deputado se deparou com “uma aglomeração da arraia-miúda” que o esperava e “fez-lhe ruidosa manifestação”.

Isso, depois de terem caído sobre sua cabeça “milhares de pétalas de rosas” e de “dois pombos, um preto e outro branco, simbolizando o partido pelo qual foi eleito” terem dado voltas no recinto, conforme publicado em O Paiz, no dia seguinte.

Algo de novo acontecera no cenário político nacional.

Símbolo de resistência

O deputado, Monteiro Lopes peregrinou pelos estados que o apoiaram, confirmou sua disposição de luta por direitos universais, cidadania e igualdade racial. Tornou-se referência para a militância e símbolo de resistência da luta negra no pós-abolição.

Seu mandato foi colocado, também, a serviço das questões sociais e dos direitos dos trabalhadores. Mas pouco pode fazer: faleceu às 12h40 do dia 13 de dezembro de 1910, na cidade do Rio de Janeiro, aos 43 anos. Na causa da morte, complicações decorrentes do diabetes.

Para a história, as marcas que ficaram deste político negro pioneiro – apesar de todo o racismo científico e da discriminação racial que sofreu – podem ser resumidas em expressões registradas nos jornais da época e em coroas de flores no seu enterro: “advogado dos oprimidos”, “amigo das classes trabalhadoras”, “paladino do operariado”, “egrégio parlamentar”, “negro retinto”, “homem de cor”, “homem público”, “afamado pela inteligência e filho de africanos”, “líder dos negros”, “bem falante, trajando com esmero e desfrutando certo prestigio político”, “líder da raça negra, suando reivindicações, a falar sempre, muito alto”, “bom negro”, “histórico republicano, que tinha trovoada na voz e perdigotos nas palavras”, “de estatura regular, gordo e de cor preta desbotada, beirando a mulato, brincalhão e simpático”…

Monteiro Lopes foi sepultado no Cemitério de São Francisco Xavier no Rio de Janeiro. Deixou viúva Zulmira Monteiro Lopes e um filho, Aristides Lopes, então aluno do Colégio Militar – informa o jornal O século.

Outras paixões

Paralelamente à sua atuação na área do direito e da política, Monteiro Lopes se dedicava à literatura e ao jornalismo. Escreveu, entre outras obras, Dama de sangue, O crime de Vanderbilt, poesias e artigos publicados em jornais de Recife, Belém, Manaus e Rio.

Fundou e foi o principal colaborador do Diário Ilustrado, publicado no Rio de Janeiro entre 1904 e 1905.



Conclusão:

O Brasil elegeu um número recorde de negros (homens e mulheres) para a Câmara dos Deputados nas eleições deste domingo. Em 2023 assumiram os mandatos 91 deputadas federais e 135 parlamentares negros – pardos ou pretos, segundo a denominação do IBGE.

E segue a luta! Se não houvesse segregação não precisaríamos de tantas leis uma vez que a carta magma prevê no seu artigo primeiro que todos são iguais perante a lei.





REFERÊNCIAS:



MENEZES, Ebenezer Takuno de. Verbete OSPB (Organização Social e Política Brasileira). Dicionário Interativo da Educação Brasileira - EducaBrasil. São Paulo: Midiamix Editora, 2001. Disponível em <https://www.educabrasil.com.br/ospb-organizacao-social-e-politica-brasileira/>. Acesso em 10 out 2023.


PETRUS, A. (Org.). Pedagogia Social. Barcelona: Ariel, 1997.











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